José Valdo Rosa nunca gostou de trabalhar na empreiteira que fazia a manutenção de linhas de transmissão de energia. Apesar de elogiado pelos chefes, pois assumia funções diferentes de acordo com a necessidade, não suportava duas coisas: acordar cedo durante o inverno, principalmente nos estados do sul do país onde o frio é mais intenso, e viver, constantemente, com as botas molhadas.
Um álbum para Carmelita
A antiga fazenda do coronel João Sá, poderoso político e coiteiro de cangaceiros que por muitos anos mandou e desmandou em Jeremoabo, hoje faz parte do bairro de Nossa Senhora de Brotas, a pouco mais de um quilômetro do Centro. Diante da mansão do coronel, com duas casas impedindo a visão do que já foi um imenso canavial, um menino toca violão, observado por Samuel, pernambucano cuja cor branca engana, mas os olhos e feições não escondem a descendência indígena.
Nordeste: ausências e permanências
O primeiro contato de Meus Sertões com o professor e fotógrafo Marcelo Eduardo Leite foi durante uma pesquisa para encontrar fotos que pudessem ilustrar um artigo sobre beatismo da professora Enaura Quixabeira, no site. Marcelo foi gentil e cedeu duas de suas muitas fotos sobre Juazeiro do Norte. Não precisou de muito esforço para perceber que seu olhar sobre as questões relacionadas com o Nordeste era diferenciado.
A resistência das filarmônicas
As filarmônicas surgiram no final do século XVII, com mais ênfase, após a Revolução Francesa, quando músicos amadores passaram a se inspirar nas bandas marciais que utilizavam instrumentos de sopro e percussão. Elas se espalharam pela Europa e pelo mundo e foram trazidas para o Brasil pelos portugueses. …Ler mais.
O bacamarteiro de Santa Brígida
José Cordeiro, chamado assim porque seu primeiro ofício era fazer cordas, se alistou no Grupamento de Bacamarteiros de Santa Brígida (BA), aos 64 anos. Para fazer parte do pelotão comprou a arma no distrito de Negras, município de Itaíba, em Pernambuco, a 164 km de distância. O bacamarte de madeira com cano de motocicleta emendado custou, à época, R$ 60.
O enigma da tatuagem
É hora da merenda na escola municipal da comunidade quilombola da Baixa do Quelé, em Jeremoabo, quando João Farias Filho passa com uma garrafa plástica com um líquido escurecido numa das mãos e um saco na outra. No braço, ele traz uma tatuagem enigmática: “SIAMUSA”. João causa um alvoroço entre a criançada que merenda debaixo do cajueiro, na área central da localidade. Um dos meninos pergunta o que ele carrega na garrafa. A resposta está na ponta da língua: “dipirona”, substância farmacológica usada para dor e febre. A criançada ri porque a fama de alcoólatra precede João. Não sabe que junto à bebida está misturada casca de pindaíba, indicada para dores no estômago e nos rins, dentre outras propriedades medicinais. A resposta, a princípio irônica, faz algum sentido.
Patrimônio ameaçado
A Fazenda Nossa Senhora de Brotas, que pertenceu ao poderoso coronel João Gonçalves de Sá e abriga a capela em homenagem à santa e a antiga mansão do mais conhecido chefe político de Jeremoabo, tem destino incerto. Desde que foi comprada pelos empresários Marco Dantas, Deri e Beto do Caju não se sabe o que será feito com este patrimônio histórico.
No tempo dos coronéis
A Fazenda Nossa Senhora de Brotas foi vendida para três empresários de Jeremoabo, que ainda não decidiram o destino final da mansão e da capela de Nossa Senhora de Brotas. Eles estão construindo imóveis para por à venda na área em que existia um engenho e um canavial. No tempo dos coronéis, a construção ao lado da mansão era usada pelos escravos que serviam à casa grande. Hoje, parte da imponente moradia está em ruínas e suas portas e janelas estão trancadas. Na igrejinha, ao lado, só há lixo no interior.
A história da fazendaPadre Cícero e o senhor Ogum
A distância entre o Terreiro de Ogum, na Baixa da Lagoa, comunidade quilombola, e o centro de Jeremoabo (BA) é de 26 quilômetros por estrada de terra ou uma hora e dez minutos “de relógio”, como dizem os baianos. No caminho se avistam araras azuis. Ali, a caatinga é tão verde que muitos moradores acreditam estar diante da Mata Atlântica em pleno sertão.
Cruzes, capelas e estradas
“Valei-me, pai
Nessa hora de agonia
Chegou o dia da minha consumação
Minha alma teme
Pelo que tem que ser feito
Dai-me o direito
Dessa última oração”