Miniaturas sertanejas

“O sertão é dentro da gente”
Guimarães Rosa

O artesão Edson Duarte Marques da Silva passa a vida construindo miniaturas de casas antigas, capelinhas, currais, árvores, pássaros e paisagens sertanejas. É como se transportasse a todo momento para histórias e lugares criados a partir das histórias contadas por seus pais e tios.

Edson mostra uma miniatura. Arquivo pessoal

Foi de tanto ouvir sobre as alegres farinhadas na casa da avó Verselina, no município de Santaluz (BA), que Edson resolveu enveredar pela arte. Peneirou o adobe cru de um imóvel em ruínas e fez a terra usada para construir a primeira peça, uma casa de farinha, em 1992.

Em vez de areia e cimento, cola, papelão, lajinha e gravetos são os principais materiais usados nas construções que aprendeu a fazer sozinho. Houve uma época que o artesão pensou em desistir por não ter reconhecimento, nem retorno financeiro, de algo que exigia muito cuidado e paciência.

A mudança de ideia ocorreu graças a uma amiga, chamada Noélia. Ela foi visitá-lo na época do Natal e viu as obras que ele havia feito para enfeitar a própria lapinha. Encantada, encomendou duas casas da roça e o convenceu a continuar trabalhando para preservar lembranças marcantes dos viventes do sertão.

As miniaturas ganharam mais componentes: a vegetação da caatinga, os pássaros e o sisal, a riqueza de Riachão de Jacuípe, cidade natal de Edson, no passado.

“As peças mais procuradas são as mais antigas, quanto mais gastas melhor. Os clientes preferem as casas de farinha ou as moradias em ruínas. Eu gosto de fazer as igrejinhas da região” – diz o artesão, que cobra entre R$ 330 e R$ 400 reais por encomenda.

As vendas são feitas pelas internet, principalmente pelo Instagram. Atualmente, o artista jacuipense oferece 12 modelos diferentes de miniaturas. A fidelidade com que as reproduz permite que enfeitem residências na Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. Dentre os clientes famosos está o cantor Del Feliz.

Capelinha com ipê rosa ao lado. Reprodução

Edson lembra ainda que duas clientes deram de presente miniaturas feitas por ele para o cantor e compositor Elomar e para o atual comandante da Polícia Militar da Bahia, coronel Paulo Coutinho. Outro motivo de orgulho é a exposição virtual permanente “Casas Antigas do Sertão – Histórias em Miniaturas”, produzida por Zorá Marambaia com recursos da Lei Aldir Blanc. Ela pode ser acessada pelo endereço eletrônico .

A pesquisadora de cultura popular e colecionadora de brinquedos feitos à mão em comunidades do Nordeste Salua Chequer definiu assim o trabalho de Edson:

“Duarte traduz nas suas obras a sensibilidade e o encantamento que muitas vezes passam despercebidos para a maioria das pessoas. Ele confere uma identidade cultural tão particular (…) que é impossível não reconhecer em suas miniaturas o encanto do morar sertanejo; ele transforma a realidade em poesia.”

Além de fazer miniaturas, o artista também ministra oficinas de artesanato com papel reciclado e música no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Riachão de Jacuípe. Foi lá que conheceu Luquinha, jovem que hoje produz as minúsculas telhas das peças.

Construindo miniaturas há 30 anos, Edson diz que o segredo está na utilização do adobe de imóveis em ruínas. Assim, ele faz as casas reviverem.

“Se não for com terra de demolição, o trabalho fica sem alma” – ensina.

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Contatos:

Edson trabalhando. Arquivo pessoal

Instagram –  @marquesartesartesdosertao
Telefone – (75) 9 9197-5215

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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4 respostas

  1. Edson é um exemplo de persistência, perseverança e muito carinho com o que faz. A riqueza de detalhes em suas obras é o que mais nos cativa. É um profissional raro e um jacuipense que muito nos honra.

  2. Arquitetos se encantam com a obra de Edson, como Bruna Mondes, de Aracaju (SE), Matheus Esquivel de Vitoria da Conquista (BA) e Izabella Marques também de Vitoria da Conquista. Sucesso, primo!

  3. Oi Edson,
    A frase de Cora Coralina traduz a sua arte.
    “Nada do que vivemos faz sentido se não tocarmos o coração das pessoas.”
    Você toca.
    Parabéns

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