Cadê o prefeito?

Capítulo 3: Na calçada

Leonardo Lima e Luísa Carvalho

Entre os dias 5 e 8 de outubro do ano passado, Luísa enviou mensagens e ligou duas vezes para o prefeito de Correntina Nilson José Rodrigues (PCdoB), conhecido como Maguila. Ele não retornou as chamadas.  Outras quatro ligações foram feitas pelo pai dela, Marcos Carvalho, e só uma vez ele atendeu. Marcamos de entrevistá-lo no dia 9, sábado, bem cedo.

A primeira coisa que fizemos ao chegar no município, foi achar a casa do prefeito, com quem tínhamos uma entrevista marcada para antes das 8h. Correntina, no oeste baiano, tem cerca de 30 mil habitantes. É uma cidade pequena e, principalmente em seu centro, é bem fácil achar a casa de alguém minimamente conhecido.

O pai de Luísa, que nos levou para a cidade e nos acompanhou durante as entrevistas, estacionou o carro em frente à casa do prefeito Nilson José Rodrigues (PCdoB), conhecido como Maguila. Batemos na porta, demos uns gritos de chamado até vir um senhor que avisou: “Ele não tá não, teve que sair cedo” “Mas o senhor sabe aonde ele foi?” “Sei não, sei não”‘.

Quem sabia onde Maguila estava era sua esposa, que saiu da casa cerca de 30 minutos depois, enquanto esperávamos sentados na calçada algum sinal do retorno do prefeito. Explicamos que tínhamos uma entrevista marcada e que não estávamos conseguindo ligar para ele, que ninguém atendia. A informação veio rápida então: “Houve um incêndio” (E de fato, com o passar do dia a cidade não falava muito sobre outro assunto e fomos descobrir melhor o que havia acontecido no almoço, chegaremos lá depois).

Mas então Maguila tinha saído bem cedo de casa para ir em um dos distritos na zona rural para ver a situação do fogo atingiu parte de uma estrada. Mesmo com o compromisso inesperado do prefeito, a fama dele de ser uma pessoa simpática e prestativa na hora de marcar, mas esguia na hora de responder, nos deixou atentos.

Para saber as medidas tomadas pela prefeitura durante as manifestações de 2017 em que a cidade protestou contra a diminuição de seus rios, falar com alguém do município era parte essencial da história. Conseguimos o contato de outras duas pessoas que trabalhavam na prefeitura e que poderiam fazer a ponte entre a gente e Maguila. A questão era: ou seria de noite, ou seria no outro dia, ou então seria por vídeo chamada, com a gente já fora de Correntina.

Eu e Luísa tínhamos bem definido quais eram nossas prioridades em relação às fontes e gastar muito tempo e energia atrás do prefeito para termos uma fala burocrática para encaixar na reportagem não era prioridade no momento.

Preferimos deixar o prefeito para depois e focarmos nas nossas fontes ribeirinhas com quem já estava combinado de conversarmos às 9h. Não sabíamos naquele momento é que Maguila nunca mais nos daria retorno. (Continua)

BASTIDORES DA REPORTAGEM

Capítulos I e II Capítulo IV Capítulo V Capítulo VI Capítulo VII Perfis dos autores Guerra da água

Leonardo Lima Contributor

Estudante de jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), nasceu em São Paulo, mas mora na Bahia desde os cinco anos. Dentre as coisas que não viveria sem estão aipim frito, Legião Urbana e viagens com perrengue. Já fez dois mochilões com seu pai pela América Latina. Apaixonado por Machado de Assis e por Elis Regina, tem certeza que os dois seriam as primeiras pessoas com quem conversaria caso máquinas do tempo existissem. Estagia no jornal A Tarde, apesar de nunca ter pisado no prédio da empresa. Em 2021, junto com sua amiga e colega Luísa Carvalho, venceu a 13ª edição do Prêmio Jovem Jornalista, do Instituto Vladimir Herzog, onde investigou como o agronegócio está secando os rios no oeste da Bahia.

Compartilhe esta publicação:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sites parceiros
Destaques