105 anos de rezas

A nossa pesquisa de campo em Cultura Popular tem nos trazido alegrias imensas carregadas de conhecimentos e amizades. Cada personagem com o qual nos pomos em contato nos enriquece transmitindo a nós uma sabedoria a um só tempo popular e própria e fazendo de nós multiplicadores na tarefa auto assumidas de preservar a cultura do nosso povo divulgando-a.

Imaginem, assim, o que nós despertou estar diante de uma senhora de 111 anos, cheia de alegria e lucidez, disposta a nos ensinar sobre a experiência de rezadora que exerce há 105 anos! Sim, ela começou a benzer aos 6 anos de idade e o faz ainda hoje! O seu serviço a comunidade é tal que inspirou a Lei Chiquinha Ferreira que tornou o ofício de rezadeira patrimônio imaterial do Estado do Rio Grande do Norte. Nada mais meritório.

Muito faceira em seu vestido de pastoreio, Dona Chiquinha era só boa vontade dedicando o seu tempo em uma manhã de sábado à transmissão da religiosidade popular, com rezas magníficas ainda não ouvidas em nossa longa pesquisa de campo que já tem mais de 25 anos!

Fomos recebidos em pleno exercício da atividade que permeia toda a sua vida – atendendo a um membro da comunidade que desde a infância é beneficiado com a generosidade e fé de Dona Francisca. O músico Sandro lá estava a reforçar com reverência os méritos da rezadora das primeiras horas, sempre pronta a acudir quem a procure, seja de perto ou de longe.

Dona Chiquinha vive no distrito Santo Antônio dos Barreiros em São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Natal, sendo cuidada com imenso carinho por Francisco, um dos mais novos dos seus 14 filhos.

No vídeo abaixo, a simpática rezadeira conta um pouco de sua história e ensina três rezas para afastar “invisíveis” (espíritos perturbadores”), ventre caído e olhado.

Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.

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2 respostas

  1. Muito linda dona Chiquinha Ferreira. Muita sabedoria. O trabalho de reportagem também ficou excelente. Parabéns por esse resultado tão empolgante.

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