As velas

Enfeitam, iluminam, afastam os maus e os males. Está presente no batismo e na morte, nos bolos de aniversários e nos altares, nos pedidos de graças e nas rezas de gratidão, na doação ritual em sacrifício e na proteção dos lares.

Símbolo sagrado da vida fortemente presente no paganismo, a vela entrou na liturgia católica no século VII sendo que o seu uso é anterior a Cristo e já na igreja primitiva estava presente em exéquias (cerimônias fúnebres).

Dos nossos estudos sobre a morte e os ritos que a envolve, temos a presença do círio bem marcada. Recém-formada e residindo no interior da Bahia quando e onde ainda se morria em casa, não era infrequente ouvir de familiares de um moribundo a pergunta feita em voz baixa e sem espanto: “Doutora, já podemos acender a vela?”

No hábito antiquíssimo de “exultar” defuntos em cantorias de “incelênças”, lá estão as velas circulando o leito do último suspiro do vivente…

Casas onde moram orantes, altares íntimos guarnecidos com imagens de santos padroeiros são também assim iluminados, e não há reza em hora de aperreio que não seja acompanhada do clarão da cera a queimar pavios.

Em testamentos antigos a riqueza de detalhes determina velas a serem levadas em procissões de sepultamento, quase sempre por pobres e mendigos – os “preferidos de Deus”.

“Esse santo quer reza!”, diz o dito popular a insinuar a necessidade de o devoto agradar o seu protetor. Daí extravagâncias como oferecer pagamentos de promessas velas medindo a estatura do orante.

Mas não só no catolicismo a vela está presente: candomblé, umbanda e quimbanda, jurema e outras religiões e confissões religiosas têm na vela um instrumento rico em significado, algumas vezes aliando a sua luz a cores e cheiros utilizados em cerimônias propiciatórias.

Assim, em templos de diversas religiões, altares íntimos, nas grutas antigas onde a presença de Deus é sentida e ganha ares de santuários, nos cemitérios assim como na privacidade de enamorados em jantares catitos (graciosos), a vela é luz e calor: gratidão, guia na vida terrena e na luz eterna, intimidade, oferenda às almas, santos e orixás, proteção, memória e devoção.

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Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.

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2 respostas

  1. Gostei muito do histórico das velas. Seus usos e costumes pelo mundo e em várias religiões e suas manifestações.
    Tenho aconselhado os conhecidos e as conhecidas para que, nas comemorações de de aniversários, em vez de apagar a “velinha” adotem a prática de acender as velinhas. Às comemorações de aniversários talvez seja o único momento em que acendemos as velas e imediatamente, apagamos. Logo o aniversário que representa a vida e luz é vida! Vamos, a partir de de agora, cantar “chegou a hora de acender a velinha”.

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