Curta sertanejo

Após a morte prematura, Fernandi de Seu Neto ficou preso na Terra para pagar uma dívida: a promessa de rezar uma ladainha para o Senhor do Bonfim caso conseguisse um jogo de camisas para o time de futebol em ele que jogava. Desesperado para cumprir o prometido, o rapaz passa a assombrar a família da amiga Nita Esta é a sinopse do filme “A História Trancosa de Fernandi”, primeira produção do Clube Audivisual de Ichu (Cavi), cidade do sertão baiano, que disputa a categoria adulta do 8º Festival de Curta da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) com 52 outros filmes de 10 estados (BA, GO, MG, PA, PB, RJ, RS, SC, SP e TO).

A história, baseada na memória de Alzira Conceição Cedraz de Oliveira, a dona Ziza, moradora da Fazenda Alto dos Mulatos, próxima ao povoado de Mumbuca, tem tudo a ver com o universo fantástico do semiárido. Ela foi escolhida após os fundadores do Cavi – Hiderland Carneiro, 18 anos, Matheus Oliveira, 18, Wallafe Santana, 18, e Engel Lima, 17 – entrevistarem três idosos de Ichu, em busca de histórias fantasmagóricas que rendessem um filme.

Engel no papel de Fernandi, a assombração. Foto: Cavi
Engel no papel de Fernandi, a assombração

O centro de audiovisual surgiu a partir do Projeto de Produção de Vídeos Estudantis (Prove) da escola estadual Aristides Cedraz de Oliveira. Nele, alunos e ex-alunos do colégio são estimulados a produzir, anualmente, um curta para participar de uma mostra no município de Serrinha, a 27 quilômetros de distância.

Este ano, Hiderland, profissional do ramo de computação gráfica, e Matheus, que dá “banca” de matemática, sugeriram ao pessoal do Prove a criação de um clube de cinema. Daí para o Cavi, criado oficialmente no dia 21 de agosto, foi tudo muito rápido. Mais acelerado ainda foi o processo de filmagem. Wallafe mobilizou os moradores do povoado de Nova Esperança, onde vive a maioria dos atores. Além de ajudar o pessoal a decorar as falas, ele também conseguiu gratuitamente as locações, incluindo a casa de parentes, e fez o papel de padre no filme.

Hilderland, Wallefe e Matheus em uma das locações. Foto: Cavi
Hilderland, Wallefe e Matheus

Foram dois dias de filmagem e sete para concluir a edição. Três horas de filme brutas foram transformadas em 11 minutos e meio e, posteriormente, em um curta de dez minutos como prevê o regulamento da Uerj.

Levando em consideração que o grupo possuía os equipamentos, o custo do filme teria sido de R$ 50, o equivalente ao gasto com combustível para abastecer o veículo popular que transportou quatro personagens e o cinegrafista do centro de Ichu até o povoado.

Os integrantes do Cavi têm muitos planos para o futuro. Eles incluem a realização de um novo curta, dessa vez voltado para o mito rural do “Homem do Saco”, um sequestrador de crianças.

Isadora Lima fez o personagem Nita. Foto: Cavi
Isadora Lima fez o personagem Nita. Fotos: Cavi

Hilderlan acrescenta que também está previsto o recrutamento de mais pessoas para o clube, a realização de um pequeno festival na cidade e a realização de cursos de atuação e edição. Atualmente, o Cavi tem páginas no You Tube e no Instagram

O CONCURSO

Michele Avelar, coordenadora pedagógica do Centro de Tecnologia Educacional da Uerj e uma das responsáveis pelo concurso de curtas, disse que foram confirmadas as inscrições de 69 filmes na competição. A categoria adulta tem 53 participantes e a teen, voltada para crianças e adolescentes, possui 16 competidores.

A coordenadora ressalta a cada ano o número de concorrentes tem aumentado progressivamente. Se no início havia uma concentração de participantes cariocas e do Sudeste, hoje há inscritos de todas as regiões do país. Outro fator importante é a participação de alunos de escolas públicas, crianças e adolescentes.

“Há escolas que incluíram o concurso em seu calendário. Ano passado o tema foi 70 anos dos Direitos Humanos. Professores e alunos trabalham a temática e os estudantes fizeram os produtos audiovisuais. Nossos objetivos são estimular a produção de curtas e promover o debate de assuntos pertinentes. Eles estão sendo atingidos” – diz Michele.

O FILME

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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