Serpente do altar

Há muitos e muitos anos, quando os primeiros desbravadores chegaram ao Médio São Francisco em busca das riquezas da região onde hoje se localiza o município de Xique-Xique, o Senhor Litecilio, rico proprietário de terras, ocupou uma ilha do rio de onde podia observar todo o ouro da Serra do Suruá, dando o nome de Ilha do Miradouro.

Foi lá que se deu o fato que hoje queremos contar. A história de uma moça chamada Mariá, a mais bela de toda a Ilha e que, apaixonada por um tropeiro, cedeu aos seus encantos e engravidou numa época em que a virgindade era coisa sagrada, guardada para o casamento.

Durante os noves meses de gestação, conseguiu esconder de todos a barriga que crescia e, findo os tempos, pariu sozinha dentro do rio onde deixou a criança abandonada. No imediato momento, o bebê encantou-se em cobra! Não uma serpente com a sua carga de maldades, mas numa simpática e brincalhona cobra com olhar de gente.

De tanto ser vista ali por lavadeiras e barqueiros a população concluiu que a cobrinha precisava de orações, que aquele olhar mendicante merecia atenções da Igreja. E foi assim que o padre da Ilha escreveu ao bispo que logo chegou com os missionários convocando toda a população, principalmente a feminina, para uma missa solene no dia de Nossa Senhora Santana.

A igreja da ilha do Miradouro. Foto: Rita Barrreto/Secult
A igreja de Santana, na Ilha do Miradouro,     em Xique-Xique. Foto: Rita Barrreto/Secult

Não é que o bispo, cheio de autoridades e latins, convidou a cobra a entrar na igreja?

Rastejando entre os orantes, procurou a sua mãe que mais uma vez a rejeitou, mesmo quando desnudando o seio, obrigada pelo padre, amamentou a criaturinha que conquistara a ternura dos moradores.

Imediatamente, para a surpresa e espanto de todos, a mãe Mariá encantou-se numa enorme serpente que saiu se arrastando até o altar mor onde vive até hoje.

Da cobra-criança não se sabe o destino, mas acredita-se que busca a mãe na igreja quando as enchentes do rio as aproximam.

A VERSÃO EM VÍDEO

Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.

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