A raizeira

A história das raizeiras, doutoras em medicina popular, formadas no mato, está diretamente ligada às comunidades tradicionais. Rezadeiras, parteiras e quebradeiras de coco também fazem parte deste grupo de forte expressão cultural e patrimônio imaterial.

No dia 4 de fevereiro, durante o II Festival das Sementes Crioulas da Bahia, realizado no sertão de Brumado pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), dona Anildes Pereira dos Santos, a Nair, 68 anos, se destacava.

Há 40 anos trabalhando com raízes, Nair é uma das mais antigas “médicas populares” da comunidade Baixa do Couro, a 33 quilômetros do centro de Jacobina (BA). Ela nasceu “pegada de parteira no mato” e se criou entre raízes e plantas medicinais.

Parte do que aprendeu foi observando o trabalho dos pais agricultores, que iam vender seus produtos na feira aos finais de semana.

“Nunca fui a uma farmácia, sempre que precisava tinha uma raiz pronta para curar qualquer dor” – conta Nair, que ensina os moradores da Baixa do Couro a preparar chás e garrafadas.

Em sua comunidade, os produtos mais procurados são o mel do jitaí e os purgantes que ela prepara com raízes para curar “mal da carne de porco”.

“Não tem fi de Deus que não se alevanta tomando o mel ou o purgante. Tá com dor? Vem a mim que sai curado” – conta.

Dona Nair também é rezadeira. Dê uma olhada na variedade de dores e doenças que ela combate com rezas e garrafadas: dor de dente, dor de barriga, espinhela caída, mau olhado, bucho virado…

 “Ainda não vi um não sarar com minha reza. Foi uma sina que Jesus me deu. Não sou eu quem cura, o curador é Deus” – diz.

Até cabra e jegue o povo leva para ela rezar.

PARTOS E DEVOÇÃO

Durante muito tempo, dona Nair também foi parteira. Aparou a maioria das crianças do lugar, onde também é chamada de “Mãe Véia”. Devota de São Cosme e São Damião, prepara todo dia 30 de outubro um caruru em homenagem aos santos.

Durante o festival de sementes crioulas, a barraca dela, onde eram oferecidas raízes e sementes como catinga de porco, canela de velho, imburana de cheiro e pau ferro, foi a mais procurada.

Nair faz questão de convidar todos os seus fregueses para visitar sua farmácia do mato. Ela ensina o caminho para sua comunidade:

“Passe por Capim Grosso, pelo Junco e peça para descer na Baixa do Couro, em Pedra Branca, Jacobina”.

Como devoto da religiosidade popular sertaneja e das rezadeiras, só terminei a conversa com dona Nair, depois dela me benzer e rezar.

“Meu fi se as pessoas soubessem o que é a medicina do mato, as raízes e como elas fazem bem, nunca desprezavam elas. Vai com Deus! ”.

Respondi com uma única palavra:

“Amém”

Nascido em Teixeira de Freitas (BA), Joabes R Casaldáliga, aos 10 anos, participava das reuniões das Comunidades Eclesiais de Base. Era levado pela mãe, adepta de religião de matriz africana, que ia aos encontros para discutir os problemas da comunidade em que moravam, em Itamaraju. Cresceu entre o sincretismo, cantos, rezas, benditos, incelenças e a luta pela reforma agrária. Sua vida foi marcada por um encontro com José Comblin, padre que lançou as bases da Teoria da Enxada. É fotógrafo, comunicador popular e integrante da Pastoral da Juventude Rural.

follow me
Compartilhe esta publicação:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email

4 respostas

  1. Respeito e desejo de conviver um pouquinho com d. Nair. Absorver o conhecimento do poder das ervas e raízes. Medicamentos que me aguça o conhecimento. Parabéns, d. Nair. Presente de Deus.

  2. Adoro a medicina do Mato.
    Quero muito aprender para levar ajuda ao meu povo do Sul
    Pois estou aqui no ceara em Beberibe
    Onde tive oportunidade de conhecer a moringa o neen

  3. Há muito muito tempo venho tentando ser mãe é nunca consegui os médicos falaram que eu tenho endrometrio mais sei que nada pra Deus é impossível por isso preciso ir nesse lugar urgente

Deixe um comentário para Dalila Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sites parceiros
Destaques