Estranhas receitas

Dona Maria Alvina foi a primeira pessoa com quem a médica e pesquisadora de cultura popular Helenita Monte de Hollanda fez contato quando foi para Tucano, em 2012, trabalhar como médica do Programa Saúde de Família. Maria, então com 87 anos, morava em um sítio à beira da estrada, na localidade que tem nome de abelha: mandaçaia.

Postada a meio caminho do povoado de Olhos d’Água, a sertaneja contou muitas histórias para Helenita. Uma delas sobre o episódio em que quase abortou quando estava grávida do primeiro filho. Um chá com componentes improváveis – sabugo de milho e terra de formigueiro – teria salvo a criança. Maria teve outros 14 filhos depois disso.

Helenita ressalta que não há nenhuma comprovação científica de que a mistura consiga prender um bebê na barriga da mãe. A médica acrescenta que o aborto de Dona Maria Alvina não ocorreu por pura coincidência. E diz que são episódios iguais a este que fazem com que as crendices nasçam e se perpetuem

A médica acrescenta que  não há comprovação científica de que sabugo de milho e terra de formigueiro sirvam evitem abortos. Segundo ela, o caso de Dona Maria Alvina deu resultado por pura coincidência.

Por todo sertão há mezinhas (remédios caseiros) famosos que são indicados até para doenças graves como o lambedor feito com cupim de cajueiro. São episódios iguais ao ocorrido em Mandaçaia que fazem com que as crendices nasçam e se perpetuem.

“As histórias de  Dona Maria Alvina só confirmam a minha aposta em uma medicina das gentes ainda presente e ativa neste nosso século XXI”, diz Helenita.

ABELHAS

A mandaçaia é uma abelha sem ferrão. Seu nome é de origem indígena e significa “vigia bonito”. Isto se deve ao fato de haver um orifício na entrada da colmeia, sempre com uma abelha, a vigia, presente. Também conhecida como Amanaçaia e Manaçaia, este inseto mede cerca de 10 mm e constrói colmeias em árvores ocas, onde depositam muitos litros de mel.

Nasceu e cresceu numa típica família brasileira. Potiguar, morando na Bahia há vinte anos, é médica de formação e pesquisadora da cultura popular. Nos últimos 10 anos abandonou a sua especialidade em cardiologia e ultrassonografia vascular para atuar como médica da família na Bahia e no Rio Grande do Norte, onde passou a recolher histórias e saberes. Nessa jornada publicou cinco livros.”. No final de 2015 passou temporada no Amazonas recolhendo saberes indígenas.

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