‘Feirará’: entre dois mundos

A melhor definição para Irará, cidade localizada a 135 km de Salvador, está na monografia “Aristeu Nogueira: A militância Política e Cultural de um Comunista”, de Marcos Roberto Martins dos Santos”, finalizada em 2007. Santos mostra que Irará está localizada entre o Recôncavo e o Sertão da Bahia. Segundo ele: “duas regiões marcadas por culturas distintas, representativas de ‘dois nordestes’”.

O autor do trabalho de conclusão do curso de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba), escreve sobre o iraraense Aristeu Nogueira Campos, cuja família era proprietária de terras, lojas comerciais e de um alambique.

Martins Santos cita que Aristeu nasceu em família muito rica diante de um “cenário de extrema pobreza em que vivia grande parte da população” da cidade. E recorre ao livro “Adorável Comunista: História, Política, Charme e Confidências de Fernando Sant’Anna”, de Antônio Risério, que faz uma breve análise dos dois universos existentes em torno de Irará, que não pertence exclusivamente a nenhum deles.

“Em síntese, um é o Nordeste barroco-canavieiro, místico erótico, com suas praias e seus orixás. Outro é o nordeste do gado e do couro, ascético-milenarista, com as procissões que se arrastam pedindo chuva.

A divisão é verdadeira, um é o universo em que se move o Fabiano de Vida Secas, de Graciliano Ramos, outro é o universo de Pedro Arcanjo de Tenda dos Milagres, de Jorge Amado.

Podemos então, de uma maneira bem geral, separar a Bahia em duas. A Bahia Afro-barroca que se desenvolveu em Salvador e no Recôncavo e a Bahia sertaneja, cobrindo todo interior do estado. (…)

Irará fica num ponto de passagem, numa zona de transição entre o Recôncavo e o sertão, mas, como Feira de Santana, tem predominância sertaneja”.

A antiga Vila da Purificação de Campos, que passou a ter o nome atual em 1895, era considera uma cidade muito pequena no início do século XX, mas apesar de ter um máximo “de quatro ou cinco ruas” e duas praças, era o centro comercial da região. Destacavam-se o comércio, a agricultura fumageira e principalmente a feira-livre, que desde então acontece aos sábados e é o ápice das relações mercantis entre sete cidades.

É esta feira que Meus Sertões mostra agora em um ensaio fotográfico. Optamos por concentrar na área mais próxima ao Mercado Municipal e ao trecho de artesanato. Há ainda outras duas partes, a área de venda de animais, mais isolada, e uma espécie de açougue público, que serão objetos de um próximo ensaio.

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Hoje, Irará integra a área de expansão metropolitana de Feira de Santana, tem cerca de 30 mil habitantes e seu clima é tropical semi-úmido.

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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