Malícia eleitoral

SOTAQUE DE UM POVO NAS BARRANCAS DO VELHO CHICO

Nas eleições municipais, João Durim resolveu candidatar-se a vereador. Na campanha, usava um cartaz com foto e os dizeres: “Para vereador, João Pereira da Costa, vulgo João Durim, número 1619.”

O candidato fez da sua residência o comitê de campanha, chamando-o de: “Comitê Portas Abertas”. Assim, atendia a todos eleitores em sua própria casa, na Praça Luiz Viana.

Desde o início, o movimento de eleitores no comitê, mesmo sem Durim definir apoio ao candidato a prefeito, era de impressionar a todos.

Foi num dos eventos em seu comitê, que ele recebeu a visita dos candidatos a prefeito Fernando Nogueira e a vice-prefeito Maninho Meira.

Ao chegar, Maninho Meira manifestou seu interesse em ter o apoio de João Durim:

“Seu João, estamos aqui com a comitiva do partido, juntamente com o candidato a prefeito, senhor Fernando Nogueira. Viemos aqui em busca do seu apoio, já que o senhor ainda não pronunciou nem se posicionou.”

“Olha Seu Joel, eu estava justamente esperando vocês” – disse João Durim a Maninho Meira, pedindo ao povo uma salva de palmas aos visitantes e soltando foguetes – bum…pô…pô…bum…

“Seu João, quais as expectativas de votos, quantos votos o senhor pode arrumar pra nós? – perguntou Fernando.

João Durim parou por um instante, balançou o corpo, fazendo um movimento para frente e para trás, levantou e desceu os calcanhares ao chão, ficou na ponta dos dedos, pensou, fez um pouco de suspense e respondeu:

“Olha Seu Fernando, a base é uns dois mil e tantos votos.”

Ao ouvir essa resposta, vendo a casa lotada de gente e o foguetório comendo no centro, o candidato se animou com a movimentação. Foi aí que Fernando Nogueira se prontificou a financiar toda campanha de João Durim.

No dia da eleição foi uma grande movimentação na casa do candidato a vereador, ofereceram comida e bebida aos eleitores até se fartar.

Terminada a votação, assim que saiu o resultado, Fernando e Maninho Meira foram ao encontro de Seu João, para saber o porquê do fracasso eleitoral:

“Cadê os votos, Seu João?” – perguntou Fernando.

“E qual foi a nossa votação? Ainda apuramos quantos?”, respondeu João Durim.

Com cara de poucos amigos, Fernando falou:

“Só tivemos dois mil e tantos.”

“Apois, esses aí foram os meus” – respondeu Seu João, insatisfeito com a cobrança.

TIROS DE PARABELO

Nessa mesma eleição, o vereador Domingos Pilão Arcado, que morava em frente à casa de João Durim, estourou de votos.

Contam que os eleitores chegavam à casa de Domingos pedindo almoço e ele os encaminhava à casa de Durim, dizendo que a comida estava sendo servido lá. Daí a grande movimentação no Comitê Portas Abertas.

No dia seguinte, Seu João revoltado com o resultado, tomou umas caianas, sacou do seu parabelo 22 niquelado e começou a atirar para cima, gritando:

“Vocês me apunhalaram pelas costas”

E tome-lhe bala para cima.

COISAS DE XIQUE-XIQUE NA BAHIA

Arilson B. da Costa Contributor

Arilson Borges da Costa ,nasceu em 22 de fevereiro de 1970, em Xique-Xique – BA. Filho de sorveteiro e neto de pescador, é professor. Estudou contabilidade na escola pública de Xique-Xique, Bahia, porém em 2008 abandonou a área de exatas e passou a estudar letras vernáculas, na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Ao longo de sua vida acompanhou pescadores às margens do rio São Francisco, no intuito de entender o sotaque do povo ribeirinho, por isso migrou seu trabalho para escrita de contos e causos do povo.

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