Fogões do sudoeste baiano

O pedreiro Ariomar Ferreira Brito, o Mazinho, aprendeu com o cunhado, a fazer os fogões a lenha que caíram no gosto da população de Água Preta, distrito de Encruzilhada, no sudoeste baiano.

Foi Dema quem primeiro conheceu as vantagens do “fogão econômico” há 20 anos e levou a novidade para sua terra natal. Ele aperfeiçoou os equipamentos até criar o modelo redondo que ocupa menos espaço na cozinha.

Mazinho apraendeu a fazer fogões com o cunhado. Foto Paulo Oliveira

Os fogões fizeram tanto sucesso, segundo Mazinho, que Dema o incentivou a fazer o equipamento, pois estava ficando sem tempo para cuidar da propriedade e dos animais que criava na localidade do Alagadiço.

“No início apanhei um pouco, estava meio perdido” – confessa o então aprendiz.

Com dez anos de experiência, Mazinho conta que em três dias constrói o equipamento com cimento, tijolos, barro, areia, terra, forno, chapa de ferro e cantoneiras. Ele ressalta que os fornos feitos com tonel precisam ser trocados a cada dois anos, se for bem cuidado. Caso contrário, eles levaram alguns meses para furar.

Fogão redondo de Genésia Ferreira, 47 anos, Foto: Paulo Oliveira

O construtor cobra R$ 350 por equipamento, sem contar o material utilizado. A vida útil do equipamento é de cerca de duas décadas.

“O segredo para a fumaça não se espalhar pela casa é abrir uma passagem de 15cmx15cm abaixo do forno que conduzirá o produto resultante da combustão para a chaminé externa”, explica.

A chaminé externa impede que a fuligem invada a casa. Foto: Paulo Oliveira

Antigamente, sem este recurso, ficar na cozinha era um suplício: a fumaça entrava pelo nariz e garganta, provocando lágrimas e ardência na garganta e nos olhos, além da fuligem deixar as paredes da casa escuras.

Mazinho admite que a passagem da fumaça tem que ser bem-feita. Se houver vazamento, o fogão terá que ser desmanchado e construído.

Hoje, praticamente, não há fogão apenas de alvenaria na comunidade. A colocação de pisos e pastilhas impedem que o cimento rache com a quentura.

O calor rachou algumas partes do fogão de dona Letícia. Foto: Paulo Oliveira

A agente de saúde Juanita Ferreira Brito, 49 anos, optou pelas pastilhas. Ela também construiu um outro forno, mais potente, onde prepara pães e biscoitos que vende na feira de Encruzilhada aos sábados.

Já Ivanda Meira Barros, também agente de saúde de Catingal, no município de Manoel Vitorino (BA), a 213 km de Encruzilhada, ressalta o fato que é possível cozinhar, assar e esquentar água – há um compartimento específico para isto – ao mesmo tempo no fogão, economizando lenha.

Compartimento para esquentar água ao fundo. Foto: Paulo Oliveira

Foi a “tucuruba”, buraco aberto no chão pelos indígenas, protegido por pedras, que deu origem a este tipo de fogão.

Jornalista, editor, professor e consultor, 61 anos. Suas reportagens ganharam prêmios de direitos humanos e de jornalismo investigativo.

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3 respostas

  1. A exposição de fogões a lenha traz uma vontade de (fugere urbem e carpe diem) . Essa sensação bucólica que todos nordestinos têm, principalmente os que vivem no sudeste do pais, aumenta ainda mais com essa exposição, foi de grande relevância. Parabéns Meus Sertões!

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