Os netos de Guena

Simplicidade e a animação são características da folia do Terno de Reis Netos de Guena, criada há cerca de 40 anos, no povoado Itaipu, na zona rural de Vitória da Conquista. O mestre da folia Leônidas Freire, o Léo, e os demais componentes do grupo eram crianças.

Léo conta que ele, irmãos e primos ouviam as histórias sobre a vida de folião, contada pelo avô. De tanto ouvir, os meninos decidiram manter a tradição. Criaram um terno e homenagearam Guena.

A mãe e a tia do fundador do Terno  fabricaram os primeiros instrumentos. As gaitas eram caniços de mamoneiras improvisados e latas de diferentes tamanhos serviam como caixas e tambores.  Assim foi feita a primeira apresentação.

O Terno, Folia de Reis, Reisado, ou Festa de Santos Reis é uma manifestação cultural, religiosa e festiva. Tem o intuito de relembrar a jornada dos Três Reis Magos em busca do local de nascimento de Jesus, a fim de homenageá-lo e dar-lhe presentes.

Com o passar do tempo, a família cresceu e o terno se firmou, deixando de lado a improvisação. O figurino e os instrumentos são feito pelos comunidade. Além de mestre, Léo constrói quase tudo que faz som, com exceção da flauta indiana. Aprendeu o ofício observando os instrumentos nas lojas de produtos musicais na cidade.

“Eu espiava os instrumentos nas lojas, aí chegava em casa eu fazia. Os de sopro, a mente deu para eu fazer também. Aí, qualquer um eu faço” – diz.

PURINHA

Não há integrante do terno que não tenha uma história para contar, envolvendo a cachaça. Diferente da que consomem hoje, industrializada, a do passado era artesanal, “purinha”.

Rosivaldo Freire cresceu ouvindo as histórias dos dias de reisado. Como não havia facilidade de transporte, o grupo saía de casa no dia 1º e retornava no dia 6 de janeiro, quando se comemora o Dia de Santos Reis. Passavam de casa em casa, em diferentes comunidades rurais. O trajeto a pé era feito sem trocar de roupa ou ter lugar definido para dormir, mesmo porque nos dias dedicados à folia não havia tempo para pegar no sono.

Durante a maratona, um componente era escolhido para carregar uma capanga com cachaça. O consumo era controlado pelo líder do grupo. Era possível beber para aumentar a alegria, mas a disciplina tinha que ser mantida.

O uso da cachaça como combustível do terno de reis não se restringe aos tempos antigos. A bolsa foi substituída por garrafas de plástico. Dona Maria Creuza diz que, às vezes, um folião ou outro fica mais animado com a bebida e começa um falatório, mas vem o mestre e o chama para a roda:

“Todo mundo vai bater bumba, vai bater uma caixa, pegar uma coisa, bater palma e acaba logo aquela alegria da bebida” – conta.

Apesar de ter sido a única mulher que se vestiu para participar da apresentação feita para Meus Sertões, dona Maria possui mais duas companheiras no grupo, mas é a mais motivada. Ela não para de tocar pandeiro e dançar.

“Eu saio com eles (os homens que tocam instrumentos no terno) também… Três dias, quatro dias, cinco dias, o tanto que precisar, a gente está andando” – revela

Além da pinga, outra companheira da tradição do terno é a disciplina. Todos, desde sempre, têm que seguir o planejamento do líder da folia para que não se perca o objetivo de transmitir a cultura do reisado para as novas gerações

Os integrantes mais velhos querem ficar até morrer na brincadeira, mas tratam de ensinar o ofício aos filhos e netos.

ENSAIO

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Nordestina de corpo e alma, jornalista. Nasceu em uma cidade de menos de 10 mil habitantes, Malhada de Pedras – BA, e tem sede de explorar o mundo. Adora conhecer lugares e personagens, seja através de livros, música, telenovelas, séries, viagens ou qualquer outra forma. Se encantou pelo jornalismo por meio dos grandes eventos esportivos, mas descobriu na fotografia e nas ruas uma nova vontade de contar histórias longe dos limites de um campo e dos quadros de medalhas. Quando criança decidia se gostava de um time ou não pelo o uniforme. É corintiana.

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